Paula Costa - Psicóloga

A crescente onda de diagnósticos na infância: um alerta necessário

19 novembro, 2025

Nos últimos anos, tenho recebido em consultório um número impressionante — e profundamente preocupante — de crianças e adolescentes chegando com diagnósticos de TDAH, TOD ou Autismo. Muitas famílias chegam assustadas, acreditando que seus filhos “têm algo grave”, quando, na verdade, nem sempre houve uma avaliação completa, responsável e multidisciplinar.

É fundamental ressaltar: sim, existem crianças e adolescentes que realmente apresentam esses transtornos e que precisam de cuidado especializado — inclusive, em alguns casos, de medicação.
O tratamento correto pode transformar vidas. O problema não está nesses casos, mas na avalanche de diagnósticos precipitados, feitos às pressas, apoiados em observações superficiais ou baseados exclusivamente em comportamentos esperados para a idade, mas incompatíveis com as expectativas adultas de um mundo acelerado.

É doloroso perceber que muitas dessas crianças não estão doentes; estão sobrecarregadas, hiper estimuladas, desconectadas da própria experiência infantil. Estão crescendo em um ambiente onde telas ocupam um espaço central, oferecendo estímulos intensos, imediatos e altamente dopaminérgicos. O cérebro delas se acostuma ao ritmo rápido, às recompensas instantâneas, à ausência de espera.

Diante disso, pedir que uma criança preste atenção numa aula, faça uma lição, tolere a frustração ou simplesmente espere… se torna um desafio enorme. Não porque exista necessariamente um transtorno, mas porque seu sistema emocional e cognitivo foi educado por um tipo de estímulo que funciona na lógica da urgência e da distração contínua.

Como disse Donald Winnicott, “É no ambiente suficientemente bom, com limites firmes e amorosos, que a criança se sente segura para existir e se desenvolver.”
Os limites não são castigos — são continentes. São aquilo que permite à criança organizar sua vida emocional, aprender a esperar, a lidar com frustração, a tolerar tensões internas e externas.

Quando esses limites falham, o próprio desenvolvimento se fragiliza. E é justamente essa fragilidade que muitas vezes tem sido confundida com patologia.

A medicalização precoce, sem aprofundamento, se torna uma saída rápida — porém perigosa. Porque, antes de serem pacientes, essas crianças precisam ser vistas como crianças.

Precisamos devolvê-las à experiência do real: ao contato humano, à rotina, aos limites, à presença emocional, ao tempo que as telas substituíram.
Precisamos, acima de tudo, devolver-lhes o direito a avaliações responsáveis, honestas e cuidadosas.

 

31 outubro, 2025
  • Quando eu escolhi a Psicologia eu imaginava poder ouvir as dores que as pessoas não tivessem espaço pra dizer.
    O que eu não sabia era desse sentimento que vem da escuta. Dessa gratidão gigante quando o paciente conquista aquela mudança em algum padrão autodestrutivo, fruto de tanto trabalho e persistência. Trabalho dele. De falar, se ouvir e se permitir um novo caminho.
    A clínica tem me ensinado que cada indivíduo é tão único e tão imenso que qualquer julgamento tornaria esse trabalho impossível.
    Que cada um sabe de si. O terapeuta é só o instrumento pra ouvir o que o paciente disse mas ainda não escutou.
    Obrigada aos meus por se permitirem viver esse percurso.

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31 outubro, 2025

Foram dias e noites de estudo, anos de espera e alguns passos no escuro para chegar até aqui.
Viver o propósito da clinica, criar e consolidar minhas raizes nessa profissão me traz a certeza que escolhi o caminho certo pra mim.
A cada transformação e conquista dos meus pacientes é uma vitória e alegria.
Eu torço e me emociono com cada um e eles sabem disso.
Que a gente lembre que nada pode substituir a humanidade do olhar e do silêncio que acontecem dentro do consultório.

 

Voracidade - Melaine Klein

28 janeiro, 2024

A voracidade é constitutiva. Vem das primeiras relações com o objeto. Ocorre quando o sujeito nasce com o ID muito intenso.

Na posição esquizo paranoide com a divisão entre seio bom e seio mau, sendo no seio bom a predominância do amor e gratidão e no seio mau a inveja e os impulsos sádicos orais e anais, para o sujeito voraz não existe seio bom que seja bom o suficiente. Ele não se permite abrir mão de nada até a obtenção de seu desejo. São relações com si mesmo e com o mundo onde os excessos são característicos mesmo que estes causem mal. 

‘’(...) a capacidade tanto para amor quanto para impulsos destrutivos é, até certo ponto, constitucional, embora varie individualmente em intensidade e interaja desde o início, com as condições externas.’’ Melanie Klein – inveja e gratidão e outros trabalhos 1946 – 1963, pag 211

Estão presentes na voracidade ansiedades persecutórias, angústias de aniquilamento, provenientes da pulsão de morte, destrutiva.

A voracidade se constrói quando este sujeito percebe que o que é bom está em outro lugar – no seio bom. E é o medo de ficar sem ele – este seio bom – que torna o sujeito voraz. A falta é tão grande e devastadora que ele quer tudo para si. 

Trata-se da ânsia insaciável e impetuosa, sem qualquer consideração pelo objeto, cujas consequências podem resultar na destruição do mesmo.

‘’A inveja parece ser inerente à voracidade oral...a inveja (em alternância com sentimentos de amor e gratificação é primeiramente dirigida ao seio nutridor...’’ Melanie Klein – inveja e gratidão e outros trabalhos 1946 – 1963, pag 205

Segundo Melanie Klein existe uma conexão entre inveja, ciúme e voracidade.

A inveja é quando o sujeito sente raiva quando outra pessoa possui o objeto do qual ele quer pra si. E o impulso é retirar este objeto do outro ou então utilizar meios para destruí-lo.

Já o ciúmes é uma relação que precisa de pelo menos três pessoas. O sujeito neste caso, sente que o amor de seu objeto lhe foi tirado por outro e se sente abandonado e rejeitado.

E a voracidade, como vimos é quando o sujeito extrapola todos os limites, não respeitando o objeto e por mais que este lhe de coisas boas, assim como no seio bom, nunca será suficiente. 

 “A voracidade é uma ânsia impetuosa e insaciável, que excede aquilo que o sujeito necessita e o que o objeto é capaz e está disposto a dar. A nível inconsciente, a voracidade visa, primariamente, escavar completamente, sugar até deixar sexo e devorar o seio; ou seja, seu objetivo é a introjeção destrutiva. “Melanie Klein – inveja e gratidão e outros trabalhos 1946 – 1963, pag 212

A relação voraz danifica este objeto amado. É a pulsão destrutiva agindo de forma impetuosa, sempre em busca de um desejo egocêntrico sem nenhuma barreira que dê limites ao sujeito.

 

Coragem

15 janeiro, 2024

“ Estar inteira requer coragem. É tão mais fácil voltar para o conhecido, para a fantasia, para o abrigo que eu insisti tanto em deixar nos braços do outro.
É mais fácil inventar uma história para aceitar tão pouco e depois lidar com o que sobrou, tampando as cicatrizes com novos machucados.
Mas, ao decidir me olhar, não achei mais aqueles olhos perdidos e assustados.
Vi histórias repletas de transformação.
Eu me vi e percebi tão minha, que não posso mais entregar meus valores por aí.
Investi tanto em pessoas que, não vou mentir, me dá desespero pensar no tempo que perdi.
Mas foi assim que aprendi.
E agora estou aqui, tratando-me bem.
Eu passei por muito desamor para entender que eu era capaz de me proporcionar alegria e me fazer companhia.
Para compreender que eu poderia me tratar bem e me tirar de relações frias e vazias.
Era comigo que estava a força de seguir em frente.
No fim, é comigo que eu vou contar.
Pra sempre.”

Do meu livro: “Meu caminho para a liberdade”